domingo, 13 de novembro de 2011

Certo e errado

Com a vida digital, redes sociais e virtuosismos, ficamos expostos a uma chuva de tendencias, de novos padrões, e de seu adeptos sempre certos de estarem certos. Esse contexto, mero efeito colateral da globalização das nossa ansiedades, gera o abandono de nossa essência e insegurança, onde tudo pode ser sim ou tudo é não, relativismo ou dualidade. Esses solitários e incompreendidos certo e errado, roem a alma humana desde o surgimento da vida.

No gênesis do primeiro e mais comentado livro da historia do homem, já está clara nossa expulsão do paraíso gerada pela necessidade de decidir entre eles. Não existe qualquer maçã naqueles parágrafos, a grande tentação não era a volúpia ou a própria Eva. O pecado original dá-se quando a criatura feita a imagem e semelhança de Deus decide decidir. O homem quando comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, não deixou outra alternativa ao criador, senão afastá-los de si. Note que tamanha é a inquietação, que nos separamos da única fonte de amor e mergulhamos na exílio de nossos pensamentos e percepções.

Mas porque e de onde vem essa necessidade pelo bom e mau? Mantendo o grande livro como pano de fundo, vemos que a metade mais antiga dele é dedicada a cercar o homem de leis, normas e mandamentos cada vez mais incisivos, determinando qual o certo e qual o errado em detalhes. Será que o homem era de tal maneira bruto que exigia tantas regras ou era o autor que nos preservava das decisões deixando-a nas escrituras? Bem, o fato é que o velho (muito velho) testamento se embrenha nesse paradigma, onde dor justifica-se para manter ereta a dualidade.

Em capítulos mais modernos, é documentado o nascimento de um ponto de vista novo e menos pragmático dos nossos incompreendidos yin e yang. Agora exemplos onde há perdão e amor começam a ser divulgados. A adultera, o cobrador, o filho prodigo até que enfim teriam autorização para começar uma nova vida. Posso ver letreiros em neon com slogans falando de paz e misericórdia, disseminando a tônica da campanha eleitoral daquele jovem assassinado por questões aparentemente políticas.

Então, eis que o pacifista, dá um soco na outra face da humanidade e nos chama a dura verdade do dualismo doente. Mas será que enfim teriam o mesmo amor os dois filhos, ambos pródigos mas com imperfeições diferentes, citados naquela parábola? Será possível viver ao lado do infiel e egoísta, sem a sensação de medo de ser como ele? Será que nós os perfeitos seguidores da cartilha do preto e branco conseguiríamos sobreviver num mundo de imperfeitos? Aquele cristão transformaria a fé ou a sociedade ainda não ainda carece de espelhos?

Ora , ora, ora... O jovem era um idealista. Oque vimos foi o surgimento de um novo modelo de certo e errado. Dois milênios depois e mudamos apenas cenários e atores, mantendo o roteiro de nossa tragedia. Escolhemos outros ídolos perfeitos e outros demônios imperfeitos para esconder o desamor pelo Deus dentro de nós mesmos. O inferno e seu anfitrião ganharam um lugar de destaque nos discursos desses novos templos da dualidade. Nessa hierarquia de santos, anjos e arcanjos que beira ao antigo olimpo, ficamos cada vez mais longe de Deus e de seu amor.

Nessa versão mutante da velha lei, aquele pescador de pecadores assumidos virou pop star. Logico que antes precisou de um banho de loja e super poderes para ser aceito como garoto propaganda dessa nova ditadura de polarização do ser humano. Nessa nova cartilha ele nasceu da virgem Maria e padeceu sob Pôncio Pilatos. Padeceu talvez incrédulo diante do fato de que o hímen de sua humana mãe ou o nome de seu assassino tenham mais importância que o credo nos ensinamentos de sua vida inteira.

Mas enfim, nem tudo está perdido... A civilização progrediu, o antropolóide cresceu, e com ele prosperaram a sua memória, pensamento e raciocínio. Penso logo existo, e confesso que existo mais com essa escalada. Nossa evolução tecnomentalógica torna nossas leis mais complexas e vazias. Eu sou mais um de nossa raça, que pensa e raciocina submetido as mesmas leis. Mas já que leis moldam condutas mas não sentimentos, sou livre para pensar, mas para sentir sobre certo e errado.

Inserido numa sociedade tão evoluída, porque não me sinto assim quando olho pra dentro? Sei do amadurecimento social, mas onde encontro o eco disso no meu coração? Já que penso mais e melhor que Barrabás, porque ainda sinto-me por vezes no lugar dele? Que fome é essa que já dura tantos seculos e que ainda hoje me faz sentar nas colinas da Galileia para me alimentar das palavras de Jesus? Porque me orgulho de algumas decisões certas, que no fundo são o núcleo da minha infelicidade. Antes de pensar entre o bem e o mal, porque não fomos treinados a procurar o equilíbrio, a fé e o amor?  

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